Para ler a íntegra clique em FHC e as Suas
Havia anos que Fernando Henrique não fazia tanto sucesso. Esta semana, nada teve tanto ibope quanto sua recomendação aos companheiros de PSDB: “parar a disputa pelo povão com o PT” e ir à procura das “novas classes médias”.
Analistas, comentaristas, colunistas e blogueiros passaram os últimos dias debruçados sobre ela. Não foi a mais polêmica das declarações do ex-presidente. Mas foi, sem dúvida, uma das mais surpreendentes.
Ele tem um histórico curioso nessa matéria. Enquanto esteve na academia e mesmo mais tarde, no início de sua vida como político profissional, Fernando Henrique era conhecido pela verve e a capacidade de verbalização. Suas palestras nas universidades e simpósios mundo afora encantavam. As platéias ficavam cativadas por suas elaborações originais e frases elegantes.
Quando começou a ganhar mais evidência na política, continuou no mesmo diapasão. No Congresso, cunhou frases famosas, algumas cruéis contra quem era seu inimigo na ocasião. Quem não se lembra do que dizia de Sarney, que a “crise viajava” quando ele deixava Brasília?
Até amigos eram, frequentemente, alvo de seu frasismo (caso não estivessem por perto). Com notável capacidade de síntese, com três palavras conseguia encontrar o lado pior de uma pessoa.
Da campanha presidencial de 1994 em diante, no entanto, as coisas mudaram. Ao invés de achar facilmente a boa frase, passou a se complicar com declarações desnecessárias e inconvenientes. Nelas, na maior parte das vezes, não se percebia nem espírito crítico, nem inteligência.
Em muitas, até inesperados preconceitos apareciam. Como aceitar a frase do “pé na cozinha”, vinda de quem havia escrito uma análise tão importante e progressista sobre a escravidão no Brasil? E, quando quis explicá-la falando do carinho pela “mãe preta”, só piorou o problema.
E o “esqueçam o que eu escrevi”? E os “aposentados vagabundos”? Por algumas, pagou um preço injusto, pois sequer é certo que as tivesse dito (pelo menos, com as palavras através das quais entraram para o imaginário popular).
Nos “vagabundos”, por exemplo, seu alvo não eram todos os aposentados, só os precoces. Apesar disso, como, àquela altura, já era tido e havido como político elitista, nunca mais se livrou da frase na sua pior versão. Tornou-se símbolo de seu desprezo pelas pessoas mais pobres.
E esta de agora, que já está entrando para nosso anedotário como o “esqueçam o povão”?
É certo que nenhuma, desde quando deixou o Planalto, provocou reações tão intensas. Quem acompanhou o noticiário político, em qualquer mídia, da terça feira em diante, viu mais FHC nestes dias que em quaisquer outros dos últimos anos.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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